A mobilidade urbana está intimamente ligada ao mundo corporativo, uma vez que todos os dias milhões de pessoas acordam e vão ao trabalho das mais diferentes formas. Tudo isso, consequentemente, tem impacto na cidade, no bem-estar e na produtividade dos colaboradores.
Foi com base nesse contexto, que foi criado o Índice de Mobilidade Corporativa, estudo patrocinado pela 99 que visa analisar e consolidar as melhores práticas das empresas sobre a mobilidade dos seus funcionários entre casa-trabalho. A pesquisa criada pela startup Bynd, ouviu mais de 17 mil trabalhadores de 20 empresas diferentes (entre elas a 99) da Região Metropolitana de São Paulo.
Para entender mais conversarmos com Daniela Swiatek, coordenadora do Índice de Mobilidade Corporativa, doutora pela Universidade de Economia de Viena e co-fundadora e coordenadora executiva do MobiLab, o Laboratório de Inovação em Mobilidade da Prefeitura de São Paulo. Confira a entrevista:
Como a mobilidade está relacionada com o bem-estar de uma equipe de colaboradores de uma empresa?
Daniela: A forma como chegamos ao trabalho impacta fortemente na nossa produtividade. Se precisamos acordar muito cedo e passar horas em um transporte desconfortável para irmos ao trabalho, certamente chegaremos lá cansados e não produziremos bem. Além disso, um trajeto longo e sem conforto causa estresse, que por sua vez impacta na saúde desse colaborador, o que vai terminar reduzindo a capacidade de trabalho e a qualidade de vida dessa pessoa. Em grandes cidades como São Paulo, tais deslocamentos somam em média 1 hora e 55 minutos por dia por trabalhador, segundo a última pesquisa OD do Metrô. Se passamos 16 horas por dia acordados e duas delas são no transporte de ida e volta ao trabalho, estamos falando de muito tempo que não está sendo usado para viver!
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Quais são as melhores alternativas de mobilidade que ajudam tanto a empresa quanto seus colaboradores?
Daniela: O lado bom da história é que existem muitas alternativas para melhorar esses deslocamentos. Uma delas é evitar deslocamentos que podem ser feitos com políticas de trabalho virtual, o chamado home-office. Outras podem incrementar a saúde do trabalhador por meio do deslocamento ativo a pé ou de bicicleta ou com partes de caminhada e outra pelo transporte público. Políticas que reduzem a quantidade de automóveis na rua, como o transporte coletivo (seja público ou até fretado) ou programas de carona corporativa também são efetivos. Tais alternativas já foram estudadas e comprovadamente e aumentam o bem-estar do colaborador. Mas – acima de tudo – aumentam a qualidade de vida nas cidades por reduzirem engarrafamentos e emissões de poluentes.
O que é considerado um quadro ruim de escolhas de mobilidade para empresa?
Daniela: Quando pensamos em um quadro de escolhas ruins para a mobilidade precisamos pensar nos seus diversos aspectos. Há o aspecto econômico da empresa que é afetado pela produtividade das pessoas que nela trabalham, há o aspecto da cidade, porque as empresas são responsáveis pela geração de tráfego pois obrigam pessoas a se deslocarem diariamente para elas e principalmente há o aspecto do indivíduo que tem sua saúde e felicidade impactadas pela obrigação de se deslocar e com a forma e tempo que esse deslocamento ocorre.
Com o Índice de Mobilidade Corporativa (IMCorp), chamaremos a atenção da sociedade para a importância de pensarmos esses aspectos. Com esse objetivo, o IMCorp e avalia as políticas de mobilidade corporativa das empresas em suas ações para melhoria (ou não) do deslocamento casa-trabalho-casa de seus colaboradores, para que se possa identificar as limitações e potencias de ação das empresas nessa questão. Com isso, elas poderão perceber, por exemplo, que a política de dar vagas gratuitas para seus colaboradores só incentiva as pessoas a irem sozinhas de carro para o trabalho, o que aumenta os engarrafamentos e acaba por piorar a vida de todas as pessoas de uma cidade. Elas perceberão que as políticas de mobilidade corporativa impactam na vida de muito mais gente do que somente o seu colaborador.
Qual o papel da mobilidade dentro de uma cidade e como pensar em formas de melhorar isso da empresa para fora?
Daniela: Mobilidade é um aspecto central na vida das pessoas nas cidades. E, a sua melhoria é uma responsabilidade de absolutamente todos na cidade: do governo, das empresas, do cidadão.
Com o IMCorp, vamos fomentar o engajamento de todos na construção de uma mobilidade sustentável. As empresas verão que possuem papel crucial na mudança do seu entorno, do espaço urbano onde estão inseridos. Os trabalhadores começarão a escolher empresas que se preocupam com a forma como eles se deslocam. Os governos serão apoiados por empresas que querem melhorar as cidades onde estão, atuando também com políticas públicas. Uma das dimensões avaliadas no IMCorp é o que chamamos da localidade da empresa e considera a rede de transporte público, ciclovias, valor dos imóveis ao redor, uso do solo etc. Poderemos assim mostrar que é preciso engajar empresas também em questões que são tradicionalmente deixadas para o setor público e gerar awareness e integração público-privada.
Quais alternativas podem ser adotadas por empresas que buscam melhorar a mobilidade?
Daniela: As empresas têm pensado muito mais em agir com propósito e isso é uma oportunidade que queremos aproveitar e aprofundar com o IMCorp. Acho que o principal é ter um olhar diferenciado para seus colaboradores, vendo que cada um tem uma forma de se deslocar. As empresas precisam começar a entender que a tradicional política dicotômica de dar VT para colaboradores e carro corporativo para alta direção é ultrapassada e ineficiente. Queremos expor as fragilidades deste modelo e provocar a adoção de novas possibilidades, mais individualizadas e mais sustentáveis, como a adoção de programas de caminhada ou uso de bikes para deslocamentos, horários flexíveis para tirar pessoas do trânsito, home-office, programas de caronas. Existem muitas alternativas e não é difícil adotá-las. Só é preciso tratar a políticas de benefícios de mobilidade de maneira mais específica e não massificada. As pessoas não são iguais, seus trajetos para o trabalho não são iguais, suas preferências não são iguais. Por que então uma política corporativa deve tratá-las igualmente? Não vejo razão para tal.
O transporte por aplicativo pode ser uma boa opção para empresas e para a mobilidade em comparação com frotas próprias ou aluguel de carros?
Daniela: O ideal é ter uma combinação de opções para diferentes casos. Há casos em que o transporte por aplicativo pode ser mais efetivo que frotas ou que o uso de transporte individual para o trabalho. Em especial, a opção de transporte compartilhado por aplicativo pode ser muito efetiva para o bem-estar do trabalhador e para a mobilidade da cidade. Acho que vale investir em compartilhar o carro do aplicativo.
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